terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Viola Campaniça




A viola campaniça é um dos vários tipos de cordofones tradicionais portugueses, típico da região campaniça alentejana, o Campo Branco do Baixo Alentejo. É um cordofone com dez cordas (cinco ordens de cordas duplas), de enfranque muito pronunciado, e que se crê que tenha evoluido a partir da vihuela de mano medieval. Tem a seguinte afinação (da corda mais aguda para a mais grave): ré ré - si si - sol sol - DÓ dó - SOL sol.
Como particularidade deve-se referir o facto de, apesar de ser um instrumento de dez cordas, possuir doze afinadores, ou tarrachas, e da ponte, ou cavalete, estar também preparada para as doze cordas, o que indicia que o instrumento foi outrora dotado de uma sexta ordem de cordas duplas (como a viola francesa) mas que estas terão caído em desuso (aliás, o mesmo tem acontecido mais recentemente com a quinta ordem de cordas).
Até à década de 1950, a viola campaniça era comummente utilizada no acompanhamento do cante alentejano e era o principal ou único acompanhamento dos “balhos”, os bailes realizados ao fim-de-semana ou nas festas. A sua afinação está bem adaptada à exposição da melodia das modas e cantigas alentejanas, com o toque em intervalos de terceiras, sendo que as cordas mais graves são geralmente tocadas soltas, fornecendo permanentemente a tónica e a quinta.
Com a progressiva electrificação das aldeias do interior, o advento dos conjuntos de baile e a maior relevância que foi ganhando o acordeão nas funções de animação das festividades, para além das próprias alterações nos gostos musicais de grande parte da população e no maior acesso a outras sonoridades, a viola campaniça perdeu gradualmente a sua importância e, em princípios da década de 1980, considerava-se que este instrumento se encontrava praticamente extinto, que restavam poucos exemplares que testemunhavam a sua existência e nenhum tocador vivo.
É nesta altura que uma investigação do musicólogo José Alberto Sardinha, apresentada do seu livro "Viola Campaniça: o outro Alentejo" (Tradisom), anunciou a descoberta de um núcleo de tocadores ainda em actividade, disperso por aldeias e montes em torno da barragem de Santa Clara, nos concelhos de Castro Verde e Odemira, o que conduziu a estudos mais aprofundados sobre o instrumento, a sua história, a sua construção, a sua importância musical e a sua função social. Nos últimos vinte anos, apesar de se ter registado um crescente interesse por este instrumento, designadamente com a sua gravação ocasional por vários grupos e intérpretes da música popular e tradicional, encontros de tocadores, iniciativas de formação, entre outros desenvolvimentos, verifica-se que continua a ser um instrumento pouco conhecido e com pouca visibilidade.

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