terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Ouvir os sinais


Amigos,

em tempos tão acelerados, cheios de tecnologias ao nosso redor, repletos de mensagens, momentos de silêncio e meditação são preciosos para nós (violeiros e violeiras) que tão atentamente nos dispomos a ouvir a natureza, escutar a Deus.

Compartilho um texto do Leonardo Boff onde ele nos conta dessa filosofia.


Outro paradigma: escutar a natureza

por Leonardo Boff*


Agora que se aproximam grandes chuvas, inundações, temporais, furacões e deslizamentos de encostas, temos que reaprender a escutar a natureza. Toda nossa cultura ocidental, de vertente grega, está assentada sobre o ver. Não é sem razão que a categoria central – ideia (eidos em grego) – significa visão. A televisão é sua expressão maior. Temos desenvolvido até os últimos limites a nossa visão. Penetramos com os telescópios de grande potência até a profundidade do universo para ver as galáxias mais distantes. Descemos às derradeiras partículas elementares e ao mistério íntimo da vida. O olhar é tudo para nós. Mas devemos tomar consciência de que este é o modo de ser do homem ocidental e não de todos.

Outras culturas, como as próximas a nós, as andinas (dos quéchuas e aimaras e outras) se estruturam ao redor do escutar. Logicamente eles também veem. Mas sua singularidade é escutar as mensagens daquilo que veem. O camponês do altiplano da Bolívia me diz: “eu escuto a natureza, eu sei o que a montanha me diz”. Falando com um xamã, ele me testemunha: “eu escuto a Pachamama e sei o que ela está me comunicando”. Tudo fala: as estrelas, o Sol, a Lua, as montanhas soberbas, os lagos serenos, os vales profundos, as nuvens fugidias, as florestas, os pássaros e os animais. As pessoas aprendem a escutar atentamente estas vozes. Livros não são importantes para eles porque são mudos, ao passo que a natureza está cheia de vozes. E eles se especializaram de tal forma nesta escuta que sabem, ao ver as nuvens, ao escutar os ventos, ao observar as lhamas ou os movimentos das formigas, o que vai ocorrer na natureza.

Isso me faz lembrar uma antiga tradição teológica elaborada por Santo Agostinho e sistematizada por São Boaventura na Idade Média: a revelação divina primeira é a voz da natureza, o verdadeiro livro falante de Deus. Pelo fato de termos perdido a capacidade de ouvir, Deus, por piedade, nos deu um segundo livro que é a Bíblia para que, escutando seus conteúdos, pudéssemos ouvir novamente o que a natureza nos diz.

Quando Francisco Pizarro, em 1532, em Cajamarca, mediante uma cilada traiçoeira, aprisionou o chefe inca Atahualpa, ordenou ao frade dominicano Vicente Valverde que, com seu intérprete Felipillo, lesse para ele o requerimento, um texto em latim pelo qual deviam se deixar batizar e se submeter aos soberanos espanhóis, pois o papa assim o dispusera. Caso contrário poderiam ser escravizados por desobediência. O inca perguntou de onde vinha esta autoridade. Valverde entregou-lhe o livro da Bíblia. Atahaualpa pegou-o e colocou ao ouvido. Como não tivesse escutado nada jogou a Bíblia ao chão. Foi o sinal para que Pizarro massacrasse toda a guarda real e aprisionasse o soberano inca. Como se vê, a escuta era tudo para Atahualpa. O livro da Bíblia não falava nada.

Para a cultura andina tudo se estrutura dentro de uma teia de relações vivas, carregadas de sentido e de mensagens. Percebem o fio que tudo penetra, unifica e dá significação. Nós ocidentais vemos as árvores, mas não percebemos a floresta. As coisas estão isoladas umas das outras. São mudas. A fala é só nossa. Captamos as coisas fora do conjunto das relações. Por isto, nossa linguagem é formal e fria. Nela temos elaborado nossas filosofias, teologias, doutrinas, ciências e dogmas. Mas este é o nosso jeito de sentir o mundo. E não é de todos os povos.

Os andinos nos ajudam a relativizar nosso pretenso “universalismo”. Podemos expressar as mensagens por outras formas relacionais e includentes e não por aquelas objetivas e mudas a que estamos acostumados. Eles nos desafiam a escutar as mensagens que nos vem de todos os lados.

Nos dias atuais devemos escutar o que as nuvens negras, as florestas das encostas, os rios que rompem barreiras, as encostas abruptas, as rochas soltas nos advertem. As ciências da natureza nos ajudam nesta escuta. Mas não é o nosso hábito cultural captar as advertências daquilo que vemos. E, então, nossa surdez nos faz vítimas de desastres lastimáveis. Só dominamos a natureza, obedecendo-a, quer dizer, escutando o que ela nos quer ensinar. A surdez nos dará amargas lições.

Veja o livro O Casamento do Céu com a Terra: mitos ecológicos indígenas, Moderna, São Paulo 2004.

* Leonardo Boff é teólogo/filósofo.

domingo, 8 de janeiro de 2012

São Gonçalo do Amarante


São Gonçalves do Amarante (Portugal) ou Gonzalo do Amarante (Espanha) ou em Latim Gundisalvus do Amarante, nasceu em Vuzella (perto de Braga ) Portugal em 1187. Morreu em 1259. Teve o seu culto aprovado em 1560.
Gonçalves do Amarante foi um verdadeiro filho da Idade Média, um dos homens saído das páginas da "Lenda Dourada". Toda a sua vida se lê como um mural de uma parede de uma igreja cheia de coisas maravilhosas e cores brilhantes.



Ainda jovem, Gonçalves deu indicações de que seria um santo. Concentrou-se nos estudos da Igreja e recebeu treinamento na casa do arcebispo de Braga. Após a sua ordenação, foi dado a ele cuidar de uma paróquia rica e seria um posto que deveria deixá-lo muito feliz, mas ele não estava interessado em paroquianos ricos e assim foi ajoelhar-se aos pés da Virgem Maria, no seu templo favorito, e pedir a ajuda para administrar o seu ofício. Não houve nenhuma queixa da competência de Gonçalves na paróquia de São Pelagius. Ele se penitenciava, mas era indulgente com aqueles que davam dinheiro para os pobres. As contribuições que recebia para si, ele dava aos pobres e aos doentes. A paróquia de fato estava indo muito bem quando ele a passou para o seu sobrinho. Logo depois ele fez uma peregrinação à Terra Santa e lá queria ficar, mas o arcebispo ordenou que voltasse para Portugal. Ao chegar, ele ficou horrorizado em ver que seu sobrinho não tinha sido um bom pastor para o seu rebanho. O dinheiro arrecadado para os pobres tinha sido usado para comprar bons estábulos, bons cavalos e cães. O sobrinho disse a todos que seu tio estava morto e que ele tinha sido indicado pastor em seu lugar. Quando o tio apareceu em cena, furioso e velho, mas muito vivo, o sobrinho não ficou nada feliz. São Gonçalves ficou surpreso e muito triste. O sobrinho ingrato soltou os cães no tio e eles o teriam estraçalhado se os criados não tivessem afastados os cães a tempo de permitir que ele fugisse. Gonçalves decidiu então que ele já tinha tido muito da vida paroquial e foi para as colinas e, em um lugar chamado Amarante, se deparou com uma caverna onde encontrou o que precisava para viver como um eremita e assim viveu em paz por vários anos. Construir uma capela para a Santa Virgem e pregava para aqueles que vinham a ele e em breve um fluxo de peregrinos ia ao encontro a sua ermida. Mesmo feliz, Gonçalves sentiu que esta não era sua missão na vida e de novo orou para a Santa Virgem que o guiasse. Ela apareceu a ele em uma noite e disse-lhe que entrasse para a Ordem que tinha o costume de começar o Ofício com a "Ave Maria Gratia Plena". E disse-lhe também que esta Ordem lhe era muito querida e que Ela lhe dedicava uma especial proteção. Gonçalves então saiu à procura da Ordem e eventualmente encontrou o convento dos Dominicanos. Ali ele terminou a sua procura e pediu o hábito. O Beato Pedro Gonzales era o superior e logo reconheceu nele um santo e lhe deu o hábito de aspirante. Gonçalves passou pelo noviciado e foi enviado de volta a Amarante com um companheiro para fundar uma casa da Ordem dos Dominicanos por lá. O povo da vizinhança logo espalhou a noticia que o Santo eremita estava de volta. Eles vinham em grupos e pediam-lhe a cura de suas doenças. E ele, milagrosamente, os curava. Um dos vários milagres de Gonçalves foi durante a construção de uma ponte sobre o rio que era muito bravo e não permitia que as pessoas do outro lado viessem visitar a ermida no tempo das águas. Não era um bom local para se fazer uma ponte, mas Gonçalves seguiu, segundo ele, diretrizes vindas do céu.

Certa vez durante a construção, ele estava coletando doações e quando bateu à porta da casa de um homem rico, este disse a ele para procurar na loja a sua esposa com um bilhete que ela daria a ele as moedas de ouro estipuladas no bilhete. São Gonçalves levou o bilhete para a esposa e quando esta o leu passou a rir. O bilhete dizia: "Coloque este bilhete no prato da balança e dê a ele tantas moedas de ouro quanto for necessário para equilibrar a balança". A loja estava cheia de fregueses. Inalterado, Gonçalves disse: "Mulher, obedeça ao seu marido" e colocou o bilhete no prato da balança e disse: "Agora coloque no outro as moedas". A mulher colocou uma, duas e várias moedas até encher o prato e o bilhete ainda pesava mais que as moedas. Quando o prato estava derramando, São Gonçalves disse: "Já chega" e colocando as moedas em um saco, saiu deixando a todos pasmos e estupefatos.

Gonçalves morreu em 1259, após profetizar o dia de sua morte e prometendo aos seus amigos que os ajudaria após deixar esta terra.

Peregrinações logo começaram e uma série de milagres indicaram que alguma coisa deveria ser feita para a sua beatificação. Quarenta anos após a sua morte ele apareceu para várias pessoas que estavam no rio observando o nível das águas subir. A água começou a subir de forma perigosa, quase alcançando a ponte, então todos viram uma grande árvore vindo ao encontro a ponte, e viram também São Gonçalves aparecer montado no tronco e guiar a grande árvore para junto da margem do lado direito onde passou por debaixo da ponte, sem nenhum dano à mesma. Em seguida o nível da água começou, inexplicavelmente, a abaixar.
São Gonçalves é mostrado na Arte Litúrgica da Igreja como um dominicano entre dois franciscanos. Ele ainda é mostrado segurando um chuveiro de luz e um monastério em suas mãos. Às vezes ele é mostrado dando comida aos mendigos.

Este é um Santo muito venerado em Braga, Portugal e em Amarante, onde ainda estão lá a sua Ermida, a capela e a ponte. No Brasil é padroeiro de várias cidades.

O Mosteiro de São Gonçalo foi edificado no local onde, primitivamente, existiu a capela deste Santo. Durante o período medieval e, sobretudo, após sua morte, seu culto difundiu-se, tendo o seu expoente no século XVI.  Em 1343, já a igreja dita de São Gonçalo, era um pequeno santuário medieval e local de  juramento. A doação da Igreja de São Gonçalo para Convento de São Domingos, foi feita pelo Cardeal D. Henrique. A construção do atual Convento, deliberada por D. João III e Dona Catarina, foi iniciada em 1543 e decorreu ao longo de aproximadamente oitenta anos (1543-1620), sendo, por isso, notória a diversidade de estilos.

Sua festa era celebrada no dia 16 de janeiro. Os Dominicanos a celebravam no dia de sua morte, em 10 de janeiro. Com a unificação das festas dos santos em 1969/70, todos os santos tiveram suas festas celebradas no dia de sua morte, assim afesta de São Gonçalo é celebrada no dia 10 de janeiro.
São Gonçalo no Brasil tambem é chamado padroeiro dos violeiros.

Fonte: www.cademeusanto.com.br

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Dia de Reis


Depois de 12 dias andando pelo deserto, os Três Reis do Oriente chegaram a Belém para saudar o Rei dos Reis, o Menino Jesus.

Este ato de reconhecimento até hoje povoa o imaginário popular. Em comemoração a esta data é realizada a Folia de Reis. Em Santa catarina o nome usual é Terno de Reis.

Salva os Santos Reis!! Salve Salve!!



TERNO DE REIS

A tradição do Terno de Reis foi trazida para o Brasil pelos colonizadores luso-açorianos e é mantida principalmente no litoral do Brasil e no meio rural. 

O Terno de Reis é inspirado na história bíblica dos Três Reis Magos. Seguindo uma estrela que surge no céu no dia de seu nascimento, 25 de dezembro, Gaspar, Melchior e Baltazar, saem à procura do Menino Jesus, levando presentes (ouro, mirra e incenso e também instrumentos musicais: a caixa, pandeiro e a viola) e chegam a Belém no dia 6 de janeiro, Dia de Reis. 

Adaptado aos folguedos lusitanos, o Terno de Reis canta a história durante o mês de dezembro até o dia 6 de janeiro. Os grupos formados por cantores e instrumentistas percorrem as casas do início da noite ao amanhecer. 

A apresentação se divide em três partes. Na chegada, saúdam os donos da casa e pedem licença para entrar. No segundo ato, louvam o menino Jesus em frente ao presépio. A cantoria é interrompida quando o dono da casa, seguindo o exemplo dos Reis Magos, presenteia o grupo com bebidas e comidas. A apresentação se encerra com o agradecimento e despedida. Segundo a cultura popular quem recebe o Terno de Reis em sua casa é abençoado.


Fonte: Fundação Cultural de Itajaí

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Viola e Ecologia

Percebo em um tanto de pessoas uma crescente preocupação com a qualidade de vida, preocupação com a vida de forma geral, preocupação com o ambiente em que vivemos. 
Assuntos relacionados com a preservação da natureza tem ocupado cada vez mais os debates mesmo com o capital avançando sobre o que nos resta de espaço limpo.
O violeiro, caboclo ou da cidade, é uma dessas pessoas que demonstram uma atenção para esse assunto. Pois, manter a natureza em equilíbrio é uma riqueza, um dos maiores tesouros que a humanidade pode ter. 
Para nós, violeiros (as), é também nossa fonte mais sublime de inspiração, de aconchego, de conforto. Ter a natureza limpa, pura, radiante e bela é estar mais próximo de Deus.
Compartilho com todos esse vídeo onde nosso querido violeiro Almir Sater fala da experiência em zelar do nosso maior bem, nossa casa.