segunda-feira, 29 de março de 2010

A PIOR MÚSICA DO MUNDO

Amigas e amigos
dando uma olhadinha no blog do violeiro Paulo Freire, li este relato dele e posto aqui porque compartilho das palavras e sentimentos
Faço um pedido para que melhoremos a qualidade do que toca nas rádios e/ou melhoremos as rádios
democratizando a comunicação
abraço a tod@s


A Pior Música do Mundo


Hoje eu não tô bom.
Brasileiro gosta de dizer que faz a melhor música do mundo. Que em nenhum lugar ela é tão rica etc.
Já rodei 3.000 km nestes últimos 20 dias.
Ouvir rádio é fundamental para quem anda muito de carro.
É impressionantemente ruim a música que anda tocando no rádio.
O senhor e a senhora me dirão: mas é assim em todo lugar.
Sim, têm razão, em vários lugares do mundo, por estar atrelada a uma indústria, a produção musical que toca no rádio e TV deve estar blá blá blá... Todos conhecem esta história.
Aí tira-se a média no mundo todo para fazer uma mesma música ruim.
Que maravilha.
E a gente entrou nessa: gêneros inventados insuportáveis.
Depois dizemos que fazemos a melhor música do mundo.
Meu amigo e minha senhora, vão ouvindo, isso é balela.
Temos exceções, claro, muitas.
Mas seus filhos vão ouvir rádio, terão celular com estas músicas, assistirão TV com estes artistas, vão se mirar neles. Já imaginaram onde isso vai parar?
E terão como exemplo, no país que todos dizem ser o melhor do mundo, a pior música do mundo.
Hoje eu não tô bom.


Escrito por Paulo Freire

quinta-feira, 4 de março de 2010

O Silêncio Indígena

"Nós os Índios, não temos medo dele. Na verdade, para nós, ele é mais poderoso do que as palavras. Nossos ancestrais foram educados com o silêncio e eles nos transmitiram esse conhecimento:
“Observa, escuta e logo atua", diziam-nos. "Esta é a maneira correta de viver".
“Observa os animais para ver como cuidam dos seus filhos. Observa os anciões para ver como se comportam. Observa o homem branco para ver o que quer. Observa primeiro com o coração e a mente tranquilos e então aprenderás.
Quanto tiveres observado o suficiente, então poderás atuar.
Com vocês, brancos, é o contrário:
Vocês aprendem a falar.
Dão prêmios às crianças que falam mais na escola.
Em festas todos falam ao mesmo tempo, por vezes ninguém se entende.
No trabalho, estão sempre com reuniões, nas quais todos interrompem a todos, todos repetem a mesma coisa cinco, dez, cem vezes. E chamam a isso de "resolver um problema".
Quando estão numa habitação e há silêncio, ficam nervosos. Precisam preencher o espaço com sons. Então falam compulsivamente mesmo antes de saber o que vão dizer.
Vocês gostam de discutir e nem sequer permitem que o outro termine uma frase. Interrompem-se constantemente.
Para nós, isso é muito desrespeitoso e muito estúpido. Se começas a falar, eu não vou interromper!
Talvez deixe de escutar, se não gostar do que estás a dizer. Mas não te vou interromper. Quando terminares, tomarei a minha decisão sobre o que disseste, mas não te direi se não estou de acordo, a menos que seja importante.
Terás dito o que preciso saber. Não há mais nada a dizer.
Mas isso não é suficiente para a maioria de vocês.
Deveriam pensar nas suas palavras como se fossem sementes.
Deveriam plantá-las e permiti-las crescer em silêncio. Nossos ancestrais nos ensinaram que a terra está sempre a falar, e que deveríamos ficar em silêncio para escutar.
Existem muitas vozes para além das nossas.
Muitas vozes. E só vamos conseguir escutá-las em silêncio.

"Neither Wolf or Dog"
On Forgotten Roads with an "Indian Elder" - Kent Nerburn
Kent é escritor americano de culturas indígenas, principalmente do povo Lakota.