segunda-feira, 14 de julho de 2008

Chegando no Brasil

No século XV Portugal se consolidaria como nação-estado. Descobria rotas marítimas e ficou muito rico trazendo especiarias da áfrica e ásia depois que o império otomano bloqueou as rotas terrestres.
1427 – descoberta do arquipélago dos Açores

Chegou às novas terras, batizadas de América, e a integrou ao seu reino. Mandou para estas terras, além de exploradores para avaliar as riquezas, jesuítas para converter os nativos afim de terem mais discípulos para a igreja e coroa. Junto com os jesuítas vieram a escrita, a leitura e a música.


Depois de 1530, Portugal assume de vez a colonização das terras que viriam a se chamar Brasil. Salvador transforma-se na capital da colônia, sendo um importante centro econômico. A partir da vila de São Vicente, os bandeirantes começam a desbravar o “sertão” da colônia. Sempre carregando a viola para onde quer que fossem.

Trazida para o Brasil, a viola sofreu algumas adaptações tanto no formato quanto no número de cordas. Também foi trazida de Portugal a rabeca, que fazia dupla com a viola.
Os portugueses também trouxeram as danças e cantos, a viola, a rabeca, o triangulo, a tarola, o culto a São Gonçalo, as Folias de Reis, e do Divino Espírito Santo e os votos de comer e beber na igreja.
No Brasil, esses costumes serviam para anular a nostalgia.

Com a entrada dos bandeirantes nos sertões e a fixação deles em diversas partes, desenvolveu-se várias afinações diferentes.

Registros mostram que em 1808, no Rio de Janeiro havia a Rua das Violas que teve este nome por se estabelecerem nela fabricantes de viola.

Nessa época nasciam as pequenas vilas pelo interior do Brasil. Os bandeirantes e depois os caboclos que levavam gado pelas rotas do sertão foram os principais responsáveis pela criação desses povoados que serviam de parada nas viagens e centro econômico da região.

“No tempo dos Bandeirantes”, Belmonte.

“E quando à noitinha, os sinos das igrejas tangem no céu violáceo; e dentro das casas tremeluzem as luzernas tébias dos candeeiros de azeite ou de velas de cera, e lá em baixo, nos campos do Emboaçava, quinze homens vigiam nas atalaias do Forte – ali no Colégio vai-se elevando lentamente, no silêncio sombrio, a ladainha mística dos catacúmenos, como uma canção de ninar embalando o sono da pequena vila recém nascida...”

Em 1817 um censo demonstrava que a viola era o instrumento mais popular do Brasil

“Na vila, os índios, se não tangem ao menos se divertem com seus instrumentos bárbaros, tangendo a guarapeva, chocalhando masacás, rufando uaís, assoprando torés”

“... Instrumento de gente pobre, não se depara nenhum cravo, nenhuma espinheta, nenhum clavicórdio. Dos instrumentos nobres, só parece uma harpa. Porque o que se vê mais na vila, no seu mundo musical, são as violas”

“... O sexo frágil também gosta de música e, se não podem dedilhar uma cítara, como Santa Cecília, contenta-se com possuir instrumento mais acessível. E é assim que a senhora Paula Fernandes deixa, ao morrer, uma guitarra”

Bluteau, rigoroso cicerone setecentista que, no último volume do seu “Vocabulário”, na palavra viola, afirma: “instrumento musico de cordas. Tem corpo côncavo, costas, tampo, espelho e cavalete para prender as cordas e pastana para os dividir. Chamam-lhe comumente de CITHARA portoque o instrumento que os latinos chamarão de CITHARA podia ser muito diverso do que chamamos de viola”

“Pode-se constatar que no Brasil, praticamente, manteve a estrutura básica do instrumento português, seguindo o mesmo padrão, com cravelhas de madeira, cavalete trabalhado, e a trasteira, ou regra, - madeira onde se fixa os trastos – no mesmo nível do tampo ou texto sonoro do instrumento. Assim eram as violas brasileiras mais difundidas, encontradas entre os violeiros tradicionais e fabricadas artesanalmente. A maioria possuía apenas dez trastos, mas algumas apresentavam alguns trastos a mais, fixados no próprio tampo.Ainda hoje, há artesão que as constroem com essas características”( Roberto Corrêa).


Com o advento de uma nova fase da colonização brasileira, a industrialização foi tirando a população dos campos levando-os para as cidades. Nesse processo que iniciou no começo do século XX e ganhou mais impulso na década de 50, todo um conjunto de costumes ligados essencialmente à vida no campo foi trazido para a cidade. Músicas, danças, reuniões sociais antes praticados somente em vilas e povoados distantes foram se adaptando às novas condições de vida daquela população.

A viola ficou esquecida por um tempo, por essas gerações que começaram a optar por instrumentos elétricos importados. Foram optando em andar de tênis ao invés do chinelo ou botina. Brinquedos de plástico ao invés da bola ou estilingue. Nas escolas ou na frente da TV, as crianças perderam o contato com a cultura do simples, do reuso, com a natureza, com a cultura popular.

Assim um importante elo entre pais e filhos, mães e filhas, tios e sobrinhos, avós e netos, foi quebrada gerando uma situação difícil.

Com o advento da industrialização, o êxodo rural, a urbanização da viola foi certeira. Não só da viola mas de todo um conjunto de hábitos e crenças de diversos costumes, de diversas regiões se espremeram em um só lugar, no beco, nos guetos, nas praças das grandes cidades.

“as modificações são naturais e dão-se nos repasses de conhecimento e nas adequações às condições socioeconômicas do meio. Em nossa história recente, a luz elétrica, o êxodo rural, a evolução dos meios de comunicação e mais uma série de fatores acabaram provocando, em maior ou em menor grau, alterações significativas na música tradicional caipira, e, mesmo, sua descontinuidade”. (roberto correa)

Durante a urbanização dos ritmos caipiras, a gravação de discos foi inevitável. Como esse processo também torna-se industrial e massificado, vários ritmos diferentes, que remetiam a costumes diferentes – por isso tinham rituais diferentes de execução – foram condicionados a se adaptarem a padrões que os forçaram de tal forma a ficarem muito parecidos.

Como as músicas caipiras eram extensões de rituais e/ou festas religiosas ou profanas, tinham uma duração muito maior que os 78rpm podiam suportar. E nas rádios também o tempo era precioso. Rituais que duravam dias, músicas que se repetiam por horas, tiveram que ser representados em apenas 2 ou 3 minutos. Essa foi uma das piores alterações que a música caipira sofreu.

“... aquelas noites em que eu e meus companheiros de folguedo, sentados sobre a mesa da velha prensa de pau d’arco, na casa de farinha da fazenda ancestral, repetíamos uns para os outros, fazendo praça do esplendor de nossas memórias juvenis, ao som das cordas de tripa duma violinha tosca, feita de tábuas de caixa de charutos, as toadas dos martelos e ligeiras, as estrofes das gestas cangaceirais, as histórias dos bois misteriosos e os versos esfusiantes dos mais celebres cantores de desafio do sertão...”


“Faço uso da palavra violeiro, (...) para expressar o cantador de improvisos poéticos, ao baião de viola tocada por ele. O celebrado instrumento é a musa do bardo popular. Sua música convida à inspiração, estimula o entusiasmo nas pelejas e desenvolve o poder imaginativo do poeta, fazendo o pensamento transluzir nos repentes glorificadores. Raramente o cantador usa outro instrumento, em vez da viola. Tivemos o negro paraibano Inácio da Catingueira, o gênio bárbaro do século passado, cantando ao batuque do pandeiro por ele acionado e recoberto de louros. No Ceará, também, fugindo à regra, o cego Aderaldo Ferreira de Araújo canta tocando rabeca. Só a viola, entretanto, harmoniza a cadência do verso ao som melódico das suas cordas mágicas. A viola é a alma dos cantadores nordestinos”.

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